Capela elevada à dignidade de paróquia: mais um passo a frente na história de fé do povo Mauritiense
Imagem rara da construção da Igreja Matriz. Foto: reprodução/Departamento de Cultura/grupo MEMÓRIA MAURITI |
Havia um domingo por mês em que o padre Joaquim Alves, de Milagres, vinha atender aos compromissos da fé cristã: celebrar a Santa Missa, ouvir confissões, realizar casamentos e batizados. A celebração da confirmação da fé - a Crisma - acontecia a cada quatro anos.
Padre Joaquim Alves assistiu o povo de Mauriti de 1935 à 1943 |
A PARÓQUIA
A capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, construída em honra ao voto do capitão Miguel Dantas que foi curado da cólera pela intercessão da Imaculada, pertencia ao município de Milagres até o dia 08 de dezembro de 1943. Quando foi desmembrada do território paroquial da cidade próxima, realizou-se uma grande e bonita festa com a presença do Bispo Diocesano, na época, Dom Francisco de Assis Pires. Em preparação para este dia, foi rezado um solene tríduo de missões pregadas pelos missionários da Sagrada Família da cidade Crato-CE.
A paróquia foi entregue ao virtuoso padre Antônio Alves até o mês de Janeiro de 1944, sendo substituído pelo Padre José Alves de Macêdo, neo-sacerdote.
Padre Macêdo era jovem, dinâmico e hábil nas profissões. Foi pedreiro, carpinteiro, ferreiro e pintor. Recebeu o comando da paróquia e assumiu, de prontidão, a reforma da Igreja, sendo hoje um belo templo. Conquistou, conservou e cativou a amizade de todos os paroquianos, onde conta-se um grande número de afilhados. Conseguiu de presente toda a madeira de dois proprietários das fronteiras de Umburanas: o major Joaquim Furtado Leite (Quinco Lulu, o “major”, como, geralmente, era chamado) e o outro conhecido pelo o apelido “Peba”, dos sítios Serra do Urubu e Freixeiras. Ambas madeira de lei, sobretudo, as Freixeiras, pertencente ao Peba. Doaram como presente à Imaculada Conceição. Assim, transportava-as para a casa do padrinho Quinco Lulu, onde havia toda ferramenta indispensável ao trabalho.
Dom Francisco. A capela foi elevada à paróquia durante o seu episcopado na Diocese de Crato. |
Padre Antônio Alves, preparador da paroquia no ano 1943. |
Padre José Alves Macêdo - Vigário de 1944 à 1955. |
Padre Macedo acordava às 05 da manhã. Celebrava a Missa, servia-se do lanche, montava em um burrinho comum, punha um grande chapéu de palha e portava-se de machado e foice. Acompanhado por um rapaz conhecedor dos limites das terras, servia-lhe água e o que mais precisasse.
Chegando às 18 horas, de volta ao pouso, a madrinha Mariquinha olhava as mãos calosas de sangue e tentava aconselhá-lo:
- Padre Macedo, o senhor não precisa deste tipo de vida.
Respondia ele:
- Dona Mariquinha, o homem nasceu e vive para trabalhar. Quando essa madeira desceu da serra, já foi pronta para ser usada, desde o preparo do machado ao serrote.
Linhas, caibros, ripas. No muro da casa paroquial, construiu uma casinha para o trabalho ao lado de um amigo, o senhor José Severino, hábil, também, em carpintaria, juntos lutaram até o fim da batalha.
A primeira etapa foi a construção da Casa paroquial, ao lado da Matriz. Nesta, escalou homens a doarem as portas; as senhoras, que dispunham de algum recurso, as janelas. Foram elas dona Mariquinha - de Teodorico Leite - a madrinha Mundinha Martins, dona Odete Melo, Severina Salviano, dona Zefinha, Rosinha Martins, Argina Leite, entre outras. No dia da inauguração, cada uma fechava e abria a sua.
PASSANDO A MATRIZ
Os sinos
Os sinos foram doados pelos partidos que organizavam nas festas principais: 08 de dezembro, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, festa de Santa Terezinha e de São José. Foram organizados: azul e branco, marinha, aviação e outros. O chefe vencedor seria o padrinho, como o do sino foi Zequinha dos Anjos.
Os altares
Os altares foram os fazendeiros. De um lado e outro da imagem da Imaculada, há os anjos e Virgens da Candelária. Esta foram pelos caçulas.
O mosaico
Para o mosaico, escalou uma turma de moças da cidade e dos sítios para cotisar cada pessoa em dois tijolos. Dizia ser um joelho em cada tijolo.
Inauguração
No dia 15 de outubro de 1950, foi inaugurada em uma imponente festa, com a presença do Bispo Diocesano.
Imagem rara da construção da Matriz. Foto: reprodução/Departamento de Cultura/grupo MEMÓRIA MAURITI |
Diposição em servir
Padre Macêdo, de tudo e de todos, compadecia-se e procurava aliviar a condição de vida.
Havia um senhor chamado André Manuel, ganhava o dia a dia com uma venda de garapa de cana. Arranjou uma engenhoca e formigava de gente, mas transportava tudo no ombro. Que fez o padre Macêdo? Das aparas de madeiras, construiu uma casinha para o velho guardar tudo trancado a cadeado.
Havia outro senhor chamado João Evangelista, aleijado de uma perna. Mesmo assim, passava o dia com um galão no ombro, abastecendo as casas, pois não havia ainda água encanada. O Padre Macêdo fabricou um carrinho para ele com condições de seis latas. O trabalho ficou ameno, pois só fazia carregar e descarregar.
Padre Macêdo trabalhava muito, mas não faltava em nada. Hábil cavaleiro, atendia confissões distantes, atos de Entronização do Sagrado Coração de Jesus nas capelas e nas casas das famílias. A mamãe sofreu um derrame e passou 10 anos e oito meses sendo atendida em confissão e comunhão sempre que pedia.
DAS FESTAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO
As festas da Imaculada Conceição eram uma apoteose. Convidava-se as bandas de música de Milagres e Brejo Santo, solenizando o tríduo festivo. Nesses dias, havia um grande grupo que fazia a 1ª Comunhão na véspera do dia solene. As crianças desfilavam pela praça, acompanhadas pelos músicos. As portas das casas das outras ruas fechavam-se e a comunidade apinhava-se para observar o belo panorama.
Havia, também, as festas do Sagrado Coração de Jesus, em Junho, e Santa Terezinha, em Outubro.
Os domingos, as primeiras sextas-feiras de cada mês, Corpus Christi e a Semana Santa também eram solenizados. A benção do Santíssimo Sacramento, simples, havia todos os dias.
Padre Macêdo fundou o Apostolado da Oração, Filhas de Maria Imaculada - ambos os sexos - cruzadinha infantil e os Vicentinos.
Diante desses relatos, desde o princípio aos dias atuais, vê-se que Mauriti aumentou muito, porém, a saudade do passado pequenininho não se apagará nunca.
Dona Maria de Lourdes Osário, autora do relato acima. Moradora do sítio Mororó, em Umburanas, partiu para a morada eterna em 2013. Foto: reprodução/grupo MEMÓRIA MAURITI |
Por Pastoral da Comunicação - PASCOM com relato da senhora Maria de Lourdes Osário (in memorian), em 17 de fevereiro de 2012 e publicado em 08 de maio do mesmo ano
Fonte: Leledo José Siqueira/Grupo MEMÓRIA MAURITI (facebook)
Comentários
Postar um comentário