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Solenidade da Imaculada Conceição de Maria




Solenidade da Imaculada Conceição de Maria
Padre Antônio Edson Bantim Oliveira


Eis aqui a Serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua Palavra!

Ouvi! Ouvi vós atentamente!
É barulho de festa e de alegria. Na casa de Ana nascer-nos-á uma menina, nascer-nos-á a Nova Mulher. Escutai! É a Criação inteira que rejubila pela aurora de um novo tempo: É o Kayrós; o tempo esperado, a realização da Promessa irrompe na história, Deus decidiu restaurar na carne daquela Mulher o que, pela força da carne e pelo engano da vil serpente, fora outrora corrompido. Até mesmo «os Anjos, proclama S. Anselmo, regozijam-se ao ver restaurada a sua cidade quase em ruínas».
A Imaculada Conceição de Maria é o Advento da nova criação que realiza-se por intermédio do Fruto Bendito de seu abençoado e puríssimo ventre. O dobrar dos sinos anunciando os primeiros tempos deste que é «O Tempo», abrem espaço à ação maravilhosa da Graça de Deus, comunicam a alegria que este mistério realiza na história de toda a Criação. No ventre de Ana, Deus prepara uma criatura nova, «singela, doce e pura». Rompe-se a cadeia que ligava de modo perverso todas as criaturas; rompe-se o elo da vilania primeira que maculara a humanidade inteira e cuja herança maldita tocava cada nascido de mulher, os degredados filhos de Eva.
Exilados de nossa pátria primeira, estranhados do jardim onde floresceu a Vida e onde o amor transborda e corre regando cada criatura que d’Ele emerge, esperávamos e desejávamos ansiosamente voltar. O Deus de Misericórdia põe em Maria a chave de amor e pureza que permite à humanidade inteira reencontrar o caminho da Terra distante mas nunca esquecida. De fato, cada homem e cada mulher carrega, desde o dia fatídico e nebuloso da expulsão, no mais profundo de sua alma, uma saudade inexplicável, uma sede de plenitude e de Graça misteriosa e insaciável: é sede de Deus; é sede do Céu; é sede de ser outra vez Amor e Comunhão. Na terra bendita da vida de Maria, Deus faz brotar as torrentes de suas delícias; a água viva que sacia toda sede; a Porta aberta para que todos retornem ao alegre convívio divino.
A Palavra, o Verbo através do qual o Pai tudo Criou escolhe desde a Eternidade o ventre Bendito de Maria como sua morada pelos séculos. De fato qual filho não habita para sempre o coração da Mãe e qual mãe não faz de sua vida refúgio e proteção para seus filhos? Tanto mais, Aquele que é gerado e amado eternamente pelo Pai, faria daquela que escolhera por mãe o tabernáculo puro e santíssimo onde pode ser encontrado, amado e adorado para sempre.
A união de Maria com a Palavra não se dá somente pelo SIM que abre as portas à encarnação do Redentor, mas desde sempre a Palavra a preparou como Púlpito da Divindade. Deus de cuja misericordiosa vontade tudo provém e a cuja onisciência nada escapa deixou semeada na obra de suas mãos uma semente de remissão que haveria de brotar e florir no tempo oportuno para que o Salvador irrompesse e redimisse a Criação inteira da mácula primeira.
Na Terra humilde e árida do ventre de Ana, sob o olhar amoroso e zeloso de Joaquim, neste dia Santo e bendito, uma flor formosa desabrocha e exala seu perfume inebriante sobre toda a criação. Toda feita de amor. Toda querida no Amor e pelo Amor. Maria é concebida sem mancha, sem mácula, sem pecado. Soubera Deus que aquela criatura é, dentre todas, singular; incomparável em beleza e perfeição; inigualável em santidade e justiça; incomparável em fidelidade e confiança. Senhora da Esperança; Refúgio dos Pecadores; Consoladora dos Aflitos; Saúde dos Enfermos; Auxílio dos Cristãos; Castelo Bendito onde habita para Sempre o Rei dos reis.
Neste dia de Sua Imaculada Conceição, um raio de luz invade e afugenta as trevas que reinaram por séculos e séculos, causando terror e medo no coração dos homens e mulheres de todos os tempos; uma força de esperança e vida alegra o coração da humanidade inteira: está próxima a Salvação; o jugo que pesa sobre os filhos de Eva foi finalmente quebrado; a espada apontada sobre os filhos dos homens será vergada e destruída pela fidelidade desta humilde criatura. A opressão e a humilhação serão extintas. O Amor se tornará a Lei. A comunhão será o anseio mais profundo de cada coração a pulsar sobre a face da Terra. Os aflitos encontrarão consolo; os desolados, abrigo; nela todos temos uma advogada imbatível; defensora invencível dos pequenos e últimos; sublime Senhora que a todos ama e a todos defende como Mãe e Rainha.
Vinde Senhora a esta gente que te ama e por ti sente-se profundamente amada. Vinde Rainha da Igreja sobretudo aos corações que, desolados, clamam pelo teu patrocínio. Volvei, Senhora, o teu olhar para aqueles que estão ocultos ao prepotente e arrogante olhar dos homens. Vinde quebrar as portas, derrubar as barreiras que nos separam de teu Filho. Ajuda-nos Maria a redescobrir a beleza e a glória da santidade de vida; renova Senhora nossa, a vida da Igreja.
Neste dia bendito em que comemoramos a tua Imaculada Conceição, imploramos-te, nós que peregrinamos neste vale de lágrimas, sede nosso socorro e ajudai-nos a alcançar as torrentes da Salvação que jorram do coração aberto de Teu Filho. Reuni, Senhora, num só povo, todas as raças e nações, todos os povos e línguas; não exista, entre os teus filhos, a divisão e o ódio, a separação e exclusão que matam o corpo e acorrentam a alma. Correi ao encontro de cada aflito e comunicai-lhe a Palavra cuja vida ainda pulsa no teu ventre de Mulher e Mãe. Amém.

Pe. Antonio Edson Bantim Oliveira
08 de dezembro de 2019

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